domingo, 5 de abril de 2020

A ponte invisível do preto ao branco

    Na época em que a teoria eugenista estava em seu auge na nossa sociedade (mais precisamente na década de 20), uma obra chamada "A Redenção de Cam" foi criada por Modesto Brocos com o intuito de escancarar esta realidade a qual o Brasil estava sendo vitimizado. Esta é uma de suas obras mais famosas, que consegue retratar tal realidade com maestria.

    O nome da pintura em si já é bastante simbólica, pois remete a uma passagem escrita na bíblia, em que Cam amaldiçoa o próprio filho, quando o mesmo zomba dele por estar pelado. A coisa fica mais simbólica, se levarmos em conta o contexto de difusão deste mito, que se foi dado no início da Era Moderna, quando a cristandade neste tempo, procuravam formas de justificar a escravidão acometida no continente africano. Poderíamos então considerar que esta teoria que certos pastores e filha de um dono de canal televisivo, já defenderam cegamente.
   
Esteticamente, o quadro é carregado de simbolismos; e deixando de lado um momento, o embranquecimento tão desejado pela elite naquele tempo (e até mesmo por algumas, ainda na contemporaneidade), podemos dizer que a mãe preta agradece aos Céus, pelo fato de seu neto ter nascido branco (mentalidade de diversas mães pretas da época); e sua filha mestiça, com o sinal da mão simbolicamente religioso, junto ao filho branco (podendo remeter a figura do menino Jesus?). Porém uma questão que eu estava ansioso para levantar em algum post aqui no site, era: Será que devemos SEMPRE atrelar processos de mestiçagem, a Eugenia ou quaisquer outras coisas negativas? A resposta é simples: NÃO!
Para entendermos melhor, não é preciso ser tão acadêmico, somente ter uma visão mais ampliada e profunda de certas coisas; exemplo, eu como filho de mãe branca (também mestiça) e pai negro, não acho que impunham a ele, de ter um filho com minha mãe, eles simplesmente tiveram um momento de amor, e me tiveram (tenho certeza que você conhece casais interraciais que vivem em harmonia). Diferente da época na qual estamos discutindo; por isso, de outro lado, acho esta pintura um tanto quanto problemática (dependendo do ponto de vista que você enxerga a mesma), pois no momento que o pintor está criticando a Eugenia somente com uma pintura, muitas pessoas podem achar que ele está criticando a missigenação em si, visto que a arte é subjetiva, sendo assim cada um tem seu ponto de vista, entretanto neste caso é INEVITÁVEL compreendermos o propósito e a subjetividade de Brocos, primeiramente!
Outra obra que devemos levar em conta para tentarmos separar a missigenação "livre e expontânea" da eugênista, é o livro "Nem Preto Nem Branco, Muito Pelo Contrário" em que conta o processo de mestiçagem com seu início na época da colonização, até os dias atuais, e explicitando que nunca deixamos de lado a ideia de que "quanto mais claro, melhor" (ao mesmo tempo que muitas pessoas enaltecem nossa cultura tão misturada e diversa. Contraditório, não!?)
Resumindo: subjetivamente, acho que devemos exaltar sim nosso país tão vasto, seja em cultura ou em cores, mas temos que construir um muro, separando esta realidade daquela que vimos no início do século XX, em solo "Europeicamente Tupi".