sábado, 21 de março de 2020

Corona só expôs o que já vivíamos

   
Quem curte questões políticas e "mora" no Youtube, deve conhecer Jana Viscardi, uma youtuber e formadora de opinião, que usa de notícias atuais e normas da língua portuguesa (incluindo interpretação detexto, gêneros textuais...), atrelando ambas como base para maioria de seus vídeos na plataforma.
    Em seu mais recente vídeo, ela fala sobre um post da influencer Gabriela Pugliesi, em que a mesma propagou, em que fala sobre a problemática do Coronavírus, a faz com uma visão romantizada sobre o momento em que vivemos, visão esta que pode ser um problema por possuir um ponto de vista simplório, ingênuo e até mesmo utópico.

Segue o post que foi apagado momentos depois de postado, ao ver que o mesmo foi alvo de opiniões críticas:

Infelizmente não é só Gabriela que pensa assim. Vemos tantas pessoas pensarem da mesma forma, em sua maioria as de classe média.
Vejo este texto, e sou tomado por diversas perguntas, primeira: colocou quem no lugar?
Segunda: será que o trabalho deixou de ser prioritário para ABSOLUTAMENTE todo mundo? Ambulantes e outras pessoas que dependem da rua para terem seu dinheiro, estão aflitos e não têm para onde correr
Terceira: pobres e ricos estão ABSOLUTAMENTE no mesmo barco?
Quarta: será que não tinha um jeito mais justo, do universo estabelecer a tal igualdade social? Afinal se é igualdade, é para TODOS, e nem todos no nosso país vão para unidades de saúde qualificadas, quando sentem os primeiros sintomas de corona.

Estas perguntas que me fazem ver como o ser humano olha somente para sua realidade elitista e privilegiada. Sim! Mesmo em tempos de corona, pessoas com mais condições têm mais chances de continuarem vivas. Não estou desmerecendo a dor de ninguém neste momento, mas temos que reconhecer esta realidade, ainda mais em um país tão desigual como o nosso! Podemos tirar um exemplo, deste mesmo vídeo em que Jana fala sobre tal post, uma seguidora do canal comentou sobre uma notícia, que é bastante simbólica: "Os dois primeiros mortos no Estado do Rio eram empregados de pessoas que vieram da Itália". É fato que se há empregados, consequentemente possui um poder aquisitivo considerado alto (ou no máximo suficiente para se viver estavelmente). Então, os mesmos empregadores que vieram da Itália, por mais que tenham ficado tristes e em luto pela morte dos empregados, continuam seguindo sua vida na luta contra o vírus; e não estou dizendo que deveriam parar suas vidas ou sua luta contra a doença, pela morte dos dois, só quero que os leitores que chegaram até aqui, façam um exercício de reflexão, e além de verem essa morte como mais uma dentre tantas outras, vissem também a notícia como algo metafórico, sobre como a desigualdade pode matar, nos tornar seletivos, dando-nos mais ou menos ferramentas para continuarmos nos prevenindo. É claro que mesmo se fôssemos TODOS estáveis economicamente, ainda assim vários de nós iriam morrer, mas acontece que vivemos em um Brasil desigual, e são duas coisas que nos matam: agora é também o corona, mas sempre foi a desigualdade.

 

2 comentários:

  1. Excelentes reflexões, das quais, mesmo sabendo das desigualdades (já vivi uma época de penúria mesmo...) e até tendo concordado com o discurso de que "as coisas estão voltando ao seu lugar", não me furto aqui de deixar o registro de quão falho sou eu e somos nós, quando deixamos de pensar e agir pra mudar esse "status quo" de pessoas que não podem parar, não porque trabalham em mercados, farmácias, pois essas ainda têm um emprego, mas e as que dependem da venda diária de suas mercadorias pra poder sobreviver, pagando aluguel, contas e comparar comida mesmo. Estamos vendo que muitos não tem água e nem sabão, e muitos de nós preocupados se tem álcool gel?!?!??! E os moradores em situação de rua, que esses dias li um post de alguém dizendo que um desses moradores perguntaram por que as pessoas estavam usando máscaras... Esses, coitados, se nem a sua dignidade humana orespeitada, pois lhes falta o básico, imaginem se terão direito à informação?!... Esses e muitos pobres, que serão certamente deixados de lado, quando estiverem na fila da escolha pra morrer nos hospitais - se chegarem lá-, serão os muitos que poderão ocupar os navios "tumbeiros" que querem implementar pra esses casos... Enfim, fica a reflexão: ou resolvemos a questão da desigualdade nesse país e pra isso o capitalismo selvagem deve ser exterminado, ou iremos todos sucumbir: primeiro os miserávei e pobres, depois os outros! Que esse pensamento de que "as coisas estão voltando ao seu lugar" seja sentido por tod@s, do contrário, será mera falta de consenso, humanidade e respeito para com essa parcela superlatva desse país, chamado Brasil!

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    1. Nossa, a parte que o mendigo fez aquela pergunta, mexeu cmg! Infelizmente, tem algumas pessoas q ainda estão banalizando o problema, mas vão ser as primeiras a se "cagarem" quando o problema apertar ainda mais, ou morrer um parente próximo. O Brasil n tem recursos pra sofrer com uma eventualidade dessas, seja recurso capital ou ético/moral

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